A ave que canta de madrugada
Quatro horas da madrugada. Acordei com barulho de cachorro vomitando. É, este deveria ser só um post sobre uma descoberta e, como diz o título daquele livro que eu não li: as coisas que você só vê quando desacelera, mas a Mônica, minha cachorra, quis que eu acordasse a essa hora para aproveitar mais o dia. (Enquanto escrevia este primeiro parágrafo, parei para abrir a porta para os gatos entrarem e depois para os gatos saírem do quarto). Me levantei rapidamente, coloquei todos os bichos para fora e fui cuidar da bagunça. Ela tinha vomitado na cama. Lógico que, com quatro bichos, nós usamos protetor de colchão mas ela conseguiu vomitar bem no cantinho onde o protetor tinha se deslocado um pouco. Enfim, não me restava nada a não ser cuidar da bagunça. Tirei rapidamente o lençol e o protetor do colchão, corri para a lavanderia e coloquei tudo para lavar. Tudo bem, eu ia mesmo trocar os lençóis hoje, estava apenas adiantando meu dia, com um plus de também deixar o protetor limpinho. Enxuguei a parte do colchão que estava suja, coloquei talco sobre a mancha e, pela manhã, vou cuidar melhor disso. Estendi o edredom sobre o colchão, ajeitei os travesseiros e fui pegar meu celular para me distrair um pouco antes de tentar dormir de novo. Cadê meu celular? Não é possível! Devo ter deixado na cozinha ou na lavanderia, ando bem distraída ultimamente. Não encontrei e, só para garantir, fui ver se não tinha colocado na máquina de lavar junto com os lençóis. A máquina estava enchendo de água, girava pouco, portanto não era possível ouvir barulhos estranhos. Abri a máquina, revirando os lençóis e sim, meu celular estava lá, no fundo. Molhado e ligado. Tirei a capa, desliguei, sequei e coloquei-o num pote com arroz cru que, dizem, absorve a umidade. Agora estou aqui, às 4:30 da manhã, agitada demais para dormir de novo e, portanto, pronta para escrever o post da próxima segunda-feira.
Acho que este foi o parágrafo mais longo e, com certeza, a maior introdução que já fiz.
Tenho sono leve e acordo com frequência durante a noite. Victor, meu gato, contribui bastante com isso, vindo amassar pãozinho em meu estômago na hora em que ele acha conveniente, tipo, às 3 horas da madrugada. Nesses momentos, enquanto fico em silêncio esperando o sono voltar, às vezes ouço um pássaro cantar. Como disse no post anterior, nos mudamos de apartamento há quatro meses e o apartamento fica virado para uma praça bem agradável, onde levo as cachorras para passearem, onde crianças brincam, pessoas caminham, leem, se encontram ou só passam o tempo. No início do dia e final da tarde é possível ouvir, do apartamento, a sinfonia caótica dos pássaros acordando ou finalizando o dia, especialmente de um bando de maritacas. Durante a madrugada, ao contrário, fica tudo em silêncio. E neste silêncio, nas últimas semanas, comecei a perceber o canto de um pássaro solitário. Não sou conhecedora de aves, só sei que o canto não se assemelha ao canto comum de corujas. Fiquei intrigada. Também ouvia de dia o mesmo canto. Seria possível ele estar engaiolado?? Esperava que não. Numa dessas noites baixei um aplicativo que identificam a ave pelo seu canto. O aplicativo era em inglês e ele falou um nome de ave que eu, obviamente, não conhecia e pensei que ele devia estar errado, se referindo a alguma ave do hemisfério norte.
Nesta semana, de férias, estou ampliando a caminhada com as cachorras. Dou a volta rotineira na nossa praça e depois estendo a caminhada a algum lugar próximo. No dia em questão quis ir para outra praça próxima à nossa. Pausa para contar que tenho a intenção de conhecer todas as praças da região. Enquanto caminhava com Mônica e Magali por esta praça vizinha, bem agradável também, ouvi aquele pássaro que canta solitário durante a noite! Olhei para as aves próximas, em direção a um prédio e vi, num fio de energia, no momento em que o canto parou, um pássaro fechando o bico. Não tinha certeza se era ele pois não o vi exatamente cantar mas que coincidência seria se não fosse! Era um pássaro grande, bonito e que eu não sabia identificar.
Agora sim, por uma coincidência, cheguei em casa, deitei no tapete para descansar e alinhar a coluna e, enquanto procurava no celular uma foto de um cartão de visita para passar alguns números de prestadores para meu marido, encontrei o print que tirei da resposta do aplicativo sobre o canto do pássaro, lembram? O nome do pássaro em inglês era rufous-bellied thrush. Uma busca no Google me levou ao nome científico do pássaro, thurdus rufiventris, que levou ao nome popular no Brasil: sabiá-laranjeira. Ah, tá! Sabiá eu conheço, ao menos de nome. Muito comum na América do Sul, é a ave símbolo do Brasil.
Mas porque ele canta à noite e também de dia? Segundo pesquisadores, o comportamento noturno acontece apenas nas grandes cidades. O sabiá canta para marcar território e para se acasalar e faz isso de madrugada para não concorrer com o barulho dos grandes centros.
E foi assim que eu desvendei o mistério particular que me intrigava ultimamente e, além disso, aprendi sobre este hábito peculiar do sabiá.
Sandra
Atelier Luka Luluka
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