Eu superei o medo de dirigir

Título clichê e assunto incomum aqui no blog. Vamos lá.

Há 11 meses fui surpreendida por uma notícia que tirou minha paz: meu marido estava trocando de emprego, usaria veículo da empresa e não poderia mais nos levar e buscar na escola e no trabalho.

Foi assim desde sempre. Tenho carteira de habilitação desde os 18 anos e, fora as aulas de habilitação e uma tentativa muito frustante de tentar dirigir, eu nunca mais havia dirigido um automóvel.

Tive motos pequenas, que usava para ir ao trabalho, a cerca de 8 quadras de casa, lá no interior. Há cerca de 10 anos atrás, comecei a dirigir um Marea que tínhamos. Um pouco. Para lugares próximos. Até que eu bati o carro que quase teve perda total. Acidente bobo mas que poderia ter me ferido gravemente. Graças a Deus eu estava sozinha e foi só o susto. Mas este acidente concretizou meu medo de dirigir.

Medo? Não sei se consigo expressar o verdadeiro pavor que eu sentia. Só de me imaginar sentada ao volante eu ficava apavorada, o coração palpitava. Eu tentava fazer um exercício mental: me imaginar indo até a garagem, entrando no carro e fazendo todos os procedimentos até estar na rua. Acredite: eu nunca conseguia terminar. Parece que eu tinha uma apagão, tamanho o medo e a insegurança.

A certa altura, eu não me imaginava mesmo dirigindo e tentava me convencer de que não dirigir era uma opção minha, poderia usar transporte público quando necessário. Uma parte de mim até queria dirigir mas entre querer e agir havia um oceano de dificuldades que eu criava para não tentar.

Meus problemas se "resolveram" com a necessidade vital de dirigir. Eu vivi um pequeno período de negação, saía do trabalho, pegava um ônibus para ir até a escola das crianças, colocava a mochila pesada do Lucas nas costas e íamos os três para a estação do metrô. Mais quinze minutos de caminhada e estávamos em casa, duas horas depois. Chegávamos exaustos e só então íamos almoçar. Uma semana nesta rotina me fez tomar a coragem inicial necessária: vou aprender a dirigir pelos meus filhos!

O primeiro passo foi contatar uma auto escola especializada em aulas para pessoas já habilitadas. Parte pela insistência embaraçosa do proprietário da auto escola, parte pelo valor do pacote (cerca de R$ 1.000,00), não me senti confiante para fazer as aulas. Tive certeza disso quando, passados alguns dias, o proprietário da auto escola me ligou perguntando se eu não ia fazer as aulas e disse "desistiu??". Alguém que não tem tato e sensibilidade para saber que pessoas recorrem aos serviços deste tipo de empresa são pessoas que tem, em níveis distintos, medo e insegurança, não é alguém em quem se possa confiar.

Pedi então ao meu marido para me dar uma aula, aquela que iria quebrar a primeira barreira das muitas que viriam depois. Ele me levou até um estacionamento vazio e eu fiquei dando voltas, parando, desligando o carro, ligando de novo, andando em círculos.

Não riam, isso foi uma grande vitória pra mim. Antes disso, eu olhava pela janela do apartamento, via os carros nas ruas e não me imaginava lá, no mesmo lugar que aqueles motoristas. Eu ficava folheando o manual do veículo como se, em suas páginas, estivesse a coragem que eu tanto precisava. No dia em que tive essa aula, eu chorei que nem criança com medo do primeiro dia de aula. Antes e depois.

Me recordo de, anos atrás, minha sobrinha me dar conselhos sobre perder o medo de dirigir. Disse para pegar o carro num dia calmo e ir até um local próximo, a padaria, por exemplo. Ela disse que também tinha medo, que não dirigia na pista e que superou mesmo o medo quando foi ser au pair nos Estados Unidos. Como eu, ela deixou de ter escolha. Tinha que dirigir, levar as crianças para a escola e outros compromissos.

Bom, o que ocorreu foi que eu não pude ter esta experiência suave de ir à padaria numa manhã de domingo. Após a primeira aula, num dia livre, meu marido me acompanhou no trajeto até a escola das crianças e ao meu trabalho. E na segunda-feira seguinte eu estava dirigindo, enfrentando cerca de 30 km de pista, num dia em que havia greve de ônibus.


Você pode estar se perguntando porque estou contando esta história. Porque, assim que comecei a dirigir, quando tinha oportunidade, eu comentava com amigos, colegas e vizinhos e só então descobria que muita gente também não dirige, também tem medo. Por ser uma fraqueza, não é algo que a gente ande expondo por aí mas, assim que descobrem que outra pessoa passa pelo mesmo problema, as pessoas se abrem.

Se este post chegar até pessoas que enfrentam o mesmo problema que eu enfrentei e puder tocar e inspirar algumas delas, ele atingiu seu objetivo.

Pela minha experiência eu digo que é um caminho cheio de obstáculos que, um a um, nós podemos superar. É preciso acreditar.

Veja alguns dos obstáculos que eu enfrentei:
- Sentar no banco do motorista (verdade, gente, não é exagero) ;
- Ligar o carro;
- Fazer ultrapassagens;
- Estacionar;
- Ir a lugares diferentes.

Tenho um longo caminho de aprendizagem pela frente mas hoje tenho também a certeza e a confiança para dizer que só se aprende fazendo.

oOo

Mais um coisinha. Como prêmio pela minha coragem e determinação, decidi me presentear com um livro que eu vinha namorando há meses na seção de arte e artesanato da Livraria Cultura: Handmade Books, da Lark Studio Series. Um deleite para os olhos e muito inspirador. Contém fotos e detalhes de livros feitos à mão, um assunto que muito me encanta.



Por causa de dez reais, eu deixei de comprar o livro na loja física da Livraria Cultura para comprar no site da Saraiva. O prazo de entrega era grande, afinal o livro é importado. Até aí tudo bem, mas o prazo foi prorrogado mais duas vezes para, quatro meses depois, me informarem que o pedido foi cancelado. Fiquei muito chateada porque queria muito o livro e aquele não era meu primeiro descontentamento com a Saraiva.

Meses depois, encontrei o livro na Amazon mas, porque este livro não quer ser meu, o pedido foi também cancelado.

Sigo em busca do meu prêmio.

oOo

Que a alegria esteja com todos vocês.



Comentários

  1. Meus PARABÉNS!!! Não sabe como fiquei feliz lendo o seu relato (e ainda tem menção a mim! *.* Hahaha). Você foi muito corajosa e eu tenho certeza que o post vai atingir o objetivo!

    Falando em menção, você viu que eu mencionei sobre você aqui: https://sobrelivrosetraducoes.com.br/2016/03/15/por-lugares-incriveis-o-projeto-de-geografia-de-finch-e-violet/

    (A Saraiva deu a mesma mancada comigo, minha mãe e meu irmão!)

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  2. Oi Sandra...tmbm tenho medo...mas o meu é d estacionar...eu ate vou mas pra ir preciso estacionar e ai ja viu né...acaba o carro na garagem e eu indo a pé... as vezes fico decepcionada comigo mesmo...mas fazer o q né...quem sabe um dia...
    Bjs..estava com saudades...

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  3. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  4. Que saga em Sandra? Mas desafios são assim mesmo, e o melhor é que quando esse desafio é vencido, agente fica cheia de coragem para cumprir mais desafios, pois é amiga, siga em frente, confiante que você irá vencer e vencer. Um ótimo feriado pra você. Um xeru!

    Sandra
    http://pedacinhobysandra.blogspot.com.br/

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  5. Oi Sandra! Parabéns por superar essa dificuldade, imagine bem o que você sentia.
    Eu não dirijo, até tentei tirar carta em 98, mas no dia do exame, depois de fazer a baliza certinha e sair...o homem que acompanhava começou as anotações...pronto...fiquei tão nervosa que minhas pernas tremiam a ponto de não conseguir passar as marchas sem o carro dar aqueles solavancos...O homem falou: -A senhora quer matar a gente?!
    Nunca mais peguei num carro, aliás, nem tinha e isso era outro problema, tinha medo de pegar o carro do marido e bater...
    Beijos!

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