O que aconteceu com os ursos do Bandung Zoo?

Dias atrás, uma de minhas lembranças do Facebook era um link que compartilhei em 2017 pedindo a ajuda de meus amigos para também assinarem uma petição.


O link mostrava imagens chocantes de ursos malaios - ou ursos-do-sol (sun bears) - esqueléticos, em pé, implorando comida para os visitantes do Bandung Zoo, na Indonésia. Era de cortar o coração e perder a fé na humanidade.

A petição pedia o fechamento do Bandug Zoo. Ela exibia um vídeo feito no ano anterior pela ONG Scorpions Wildlife Trade Monitoring Group. Ao acessar o link vi que, dois anos depois, não havia ainda sido atingida a quantidade de assinaturas necessárias.

Isso me fez pensar. Após assinar a petição eu recebi algumas atualizações sobre ela e depois o assunto caiu no esquecimento. É neste ponto que eu quero chegar.

O acesso à informação se tornou algo tão banal. Em minutos podemos ter acesso a qualquer assunto, notícia, livro, música. Com um clique podemos traduzir sites de idiomas que nem sabemos qual é. O volume de informações aumentou absurdamente, em detrimento da qualidade e de nossa capacidade de absorvê-las.

Um assunto que é tão importante para mim como a proteção aos animais, um vídeo que me fez chorar de dor, em poucos meses caiu no meu esquecimento.

Talvez devêssemos parar para pensar, respirar. Desacelerar. Somos bombardeados a cada minuto por dezenas, centenas de pseudo-manifestações pró e contra todo e qualquer assunto que se possa imaginar. O Facebook se tornou um insuportável mural de compartilhamentos de imagens e links duvidosos.

Um assunto em especial que me aborrece são os compartilhamentos de maus tratos aos animais. Na maioria das vezes me pergunto, por quê? Me causa tanta dor ver animais feridos e maltratados. Isso vai mudar alguma coisa para mim? Vai mudar alguma coisa para alguém que não se importa com os animais? E para algum sádico que faz este tipo de coisa?

Em contrapartida, como aquece o coração ler e assistir histórias como as do Instituto Vida Livre, que mostram o trabalho de profissionais que se dedicam a resgatar, cuidar e preparar para soltura animais vítimas de tráfico no Brasil, ou as do The Dodo, que compartilha histórias de coragem e bondade humana em favor dos direitos dos animais e o encanto e beleza de tantas espécies.

Às vezes é preciso falar de coisas tristes como o uso de animais na indústria de cosméticos, porque a maioria de nós nem tem consciência deste assunto. Mas o que vejo diariamente é um bombardeio de compartilhamentos, num ato mecânico e sem sentimento. Parem.

Mas afinal, o que aconteceu com os ursos do Bandung Zoo?

O zoo nunca foi fechado, embora tenha havido outras denúncias de maus tratos, como a de um orangotango fumando cigarro dado por um visitante do zoo.

Ainda em 2017, por causa dos holofotes sobre o zoológico, os ursos passaram a ser melhor alimentados.

Houve pessoas que se aproveitaram da comoção mundial sobre o assunto e criaram fundos para cuidar dos animais e depois se apropriaram do dinheiro.

Numa estratégia de marketing, o zoo comemorou no ano passado, com muita divulgação, o aniversário de 1 ano de uma ursa,  com direito a balões e presentes.

Respira fundo.

O zoo mantém perfil no Instagram, criado logo após as denúncias, que mostra visitantes felizes e animais aparentemente em condições saudáveis. Me chamou a atenção uma foto de dois cães que moram no zoo e senti um arrepio ao me lembrar de cães que eram agredidos para aprenderem a andar sobre duas patas.

Após fazer todas estas pesquisas não fiquei feliz com o que encontrei nem me senti menos culpada depois de ter esquecido o assunto.

Minha sobrinha Brenda, do Sobre livros e traduções, ainda na faculdade de jornalismo, fez um trabalho em que comparava zoológicos a prisões perpétuas. Veja se isso não faz todo o sentido e é miseravelmente verdade e triste! E, ao contrário dos prisioneiros, os animais não cometeram nenhum crime para viverem enjaulados, restritos a poucos metros quadrados, privados da liberdade, do convívio com outros animais e de seus instintos de caça e sobrevivência. Tenho viva na memória a lembrança de pinguins num zoológico no interior de São Paulo, num cubículo envidraçado. Mal era possível vê-los pois os vidros estavam embaçados por causa da diferença de temperatura.

Vamos escolher nossas batalhas e lutar por elas. Ficar só compartilhando e criticando isso ou aquilo no Facebook ou no Whatsapp só faz de você um chato. Me desculpa.


Sandra

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