Notívaga e a Tetralogia

​Notívago: Característica de quem caminha à noite ou possui uma rotina, hábitos ou costumes noturnos: quem não usa as noites para dormir é chamado de notívago.

Fonte: https://www.dicio.com.br




Embora eu tenha episódios eventuais de insônia, adianto que não sou, apenas estou notívaga.

Em momentos como este que vou relatar, sempre me vem a imagem de uma cena de Toy Story, quando o Sr. Cabeça de Batata chega, depois de uma série de desventuras, com as peças encaixadas em um pepino e diz “você não tem ideia do que eu passei hoje”. Acho que já falei disso aqui, é piada interna minha e não sei se alguém pega a referência.



Enfim. Acordei num susto à uma da madrugada, filha por chegar, olhei o celular para ver a hora, tinha mensagem do trabalho, levei uns minutos pra responder e, à essa altura eu já tinha despertado. Peguei meu livro e fui para a sala para ler.

Vamos voltar algumas horas, quando me deitei para dormir e ouvi barulhos pela casa, certamente do Tofu. Já falei do Tofuzinho aqui no blog? É o novo membro da família, um legítimo exemplar de gato laranja atentado, foi adotado no dia 15 de outubro do ano passado, mesma data de aniversário do Victor, nosso gato gigante. Levantei para ver o que era: ele brincava com alguma coisa, muito feliz, correndo pela casa. Quando me aproximava dele, ele pegava o objeto na boca e saía correndo. Quando finalmente consegui alcançá-lo, vi que era uma bala de mel envolta em papel celofane. O safado tinha tirado a tampa do pote de balas - uma lata com tampa do mesmo material - e pegado a bala pra brincar. Para a Magali pegar dele e engolir com plástico e tudo, não precisava muito então tirei a bala dele e voltei a me deitar.

Voltando para o momento em que eu estava indo ler na sala, vi que Magali estava se coçando. Ela tem dermatite atópica e toma injeção de um medicamento a cada dois ou três meses. Já encomendei a dose na clínica veterinária e aguardo chegar. Tenho de reserva alguns comprimidos com a mesma finalidade então fui até a cozinha para pegar para dar a ela. Foi então que eu vi no chão algumas coisas que Tofu tinha derrubado, entre elas uma pequena caixa de parafusos que eu não tinha guardado. Os parafusos estavam todos espalhados pelo chão. Ao arrastar um banco para facilitar a coleta dos parafusos, derrubei uma garrafa de Coca-Cola de 2 litros e ela rachou e espirrou a bebida por toda a cozinha: chão, armários, geladeira, paredes. Eu tinha limpado a casa na tarde anterior. Juro que não me irritei, fui para a parte prática que era limpar todo aquele caos. Eu estava com a cabeça descansada, sem interferência de stress, então pensei: aqui trabalhamos com solução, não com punição de culpados. E vou pesar um pouco mais: a vez anterior que isso aconteceu, de refrigerante explodir, foi há alguns anos, quando Totoro meteu a unha numa latinha durante a noite e só vimos o estrago pela manhã. Então pensei que eu passaria cem noites limpando sujeira de refrigerante, se pudesse ter Totoro conosco ainda. E chorei.

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Na semana passada teve a Book Friday na Amazon e eu fico maluca e empolgadíssima acompanhando os preços das dezenas de livros que estão em meu carrinho de compras. Livros são meus objetos favoritos da vida e - já fiz algumas contas - se Deus me permitir ter uma vida longínqua, ainda posso comprar muitos livros que conseguirei lê-los. Um dos livros que estava na minha wish list, na verdade um box, é a tetralogia napolitana, série de livros da Elena Ferrante que começa com A Amiga Genial. O preço tinha caído bastante, fiz uma conta rápida e cada livro saía por menos de R$ 30, achei bom e comprei. Na segunda-feira, quanto o box chegou, fui conferir os títulos nas lombadas - outro dia comprei um box e vieram dois livros repetidos - e pensei: ué, cadê o quinto livro? Segundos se passaram enquanto caía a ficha, tetra, penta, copa do mundo… Sandra, tetralogia são quatro, não cinco!!

Contei essa história para uma amiga. Mais tarde ela propôs comprar o primeiro livro para lermos juntas, no que eu prontamente respondi que não, sem culpa. Ler pra mim é algo prazeroso e íntimo, não quero resenhar, participar de clubes de livros nem ter ansiedade envolvida neste sagrado prazer que é a leitura.

A propósito, estou lendo Amêndoas, da Won-pyung Sohn, em casa e Cartas para a Minha Avó, da Djamila Ribeiro, no metrô.


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Eu canto porque o instante existe 
e a minha vida está completa. 
Não sou alegre nem sou triste: 
sou poeta.

Motivo - Cecília Meireles


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