Livros e a gente precisa de que?
Começo de ano é sempre uma época boa, ao menos para mim, para fazer desentralhes. O corretor está me dizendo que a palavra "desentralhe" não existe e o Google me disse que o ato ou efeito de desentralhar é "desentralhamento" mas esta palavra soa mais estranha para mim do que o desentralhe para o corretor, então vamos ficar com a primeira mesmo.
Tenho muita dificuldade de me desfazer das coisas, é sempre muito sofrido para mim. Em 2021 ou 2022, não me lembro ao certo, tive um surto de me livrar de tudo o que tinha acumulado, um mundo de coisas, livros e brinquedos colecionáveis que eu já tinha anunciado mas que estavam sendo vendidos a conta gotas e me davam muito mais trabalho do que retorno financeiro ou alegria por dar um fim útil aos objetos.
Foi naquela época também que mudamos os móveis do quarto do Lucas, ele perdeu os gavetões da cama onde cabia um infinito de brinquedos que ele já nem ligava mais. Teve na época uma campanha de doação de brinquedos na escola dele e doamos muitos brinquedos grandes, quebra-cabeças e até a sua primeira bicicleta.
Quando eu me cansei da lojinha virtual, especialmente depois que uma pessoa devolveu um livro porque tinha sinais de uso, apesar de estar explicitamente anunciado como com muitas marcas de uso (eu já o havia comprado assim num sebo), eu dei um basta. Na época eu acompanhava o trabalho de uma ONG de resgate de animais daqui da região e eles tinham feito um apelo, pedindo objetos de qualquer natureza para que pudessem fazer um bazar e reverter o valor das vendas para a ONG. Entrei em contato com eles, expliquei que além de caixas de transporte e outras coisas para uso na ONG, eu tinha muitos livros e brinquedos colecionáveis que poderiam ser vendidos, até enviei fotos dos itens, duas pilhas de caixas com 2 metros de altura. Eles ficaram muito empolgados, disseram que obviamente queriam e pediram para entregar na casa de uma das voluntárias da ONG. Era um pouco longe de casa e meu marido e filha iriam para aqueles lados e levaram as caixas. Fiquei muito chateada porque minha filha disse que o lugar estava meio em obras, a mulher a recebeu com pouco caso e disse pra ela colocar as caixas num local. Não a ajudou a pegar as caixas e, nem ela, nem ninguém, nos agradeceu, na hora ou depois. Por um lado, sei que cada um dá o que tem. Fizemos o melhor que pudemos e eu só espero que os livros e brinquedos tenham sido úteis para o bem dos animais ou mesmo tenham sido doados para algum lugar.
De lá pra cá, parei de acumular coisas. Quem estou querendo enganar com este início de parágrafo hahahaha. Parei de comprar brinquedinhos do McDonald's e afins só porque são bonitinhos. Eventualmente compro alguma coleção, como a da Caverna do Dragão, que o Giraffas lançou no ano passado. Coleciono bonecas e elas sempre têm um lugar bonito e organizado para ficar. Um alerta surgiu recentemente em minha cabeça pois atingi a capacidade dos armários feitos especialmente para elas. E não tenho mais onde colocá-las então estou focada em customizar bonecas, algumas sem marca que comprei para este fim, ao invés de comprar mais.
E livros. Eu compro muitos livros. Tem uma palavra japonesa para descrever o ato de comprar livros e não lê-los: tsundoku. Não é o meu caso, eu leio os livros que compro mas numa velocidade muito inferior ao ritmo de compra. São dois prazeres distintos: comprar livros e ler. E eu amo os dois e, talvez você esteja levantando as sobrancelhas enquanto lê isso, ou talvez esteja concordando comigo (obrigada!), mas eu não vejo isso como um vício. Livros são meus objetos favoritos da vida. Em época de promoções, porque eu não compraria um livro de Stephen King por menos de R$ 30 quando eles, normalmente, costumam beirar os R$ 60? Que alegria terminar um livro e correr para a estante e analisar as muitas possibilidades de novas leituras! Depois que termino um livro, se não sinto mais afinidade com ele, eu passo para frente: vendo, doo ou presenteio alguém com ele. Mas, por outro lado, aqui eu sei exagerei, que não precisava: no final do ano comprei em sebos edições em inglês de livros da Thrity Umrigar e do Khaled Hosseini, autores que eu amo, além dos livros do Hosseini que eu li emprestado de alguém e também outra capa de um livro da Thrity. E não parei por aí. Eu recomprei dois livros comfy, da Joanne Fluke, que eu já tinha lido e doado, porque eles vêm com receitas no final. Não me venham com sermões, por favor!
Voltando ao assunto principal, a minha dificuldade em desentralhar. Estou no momento organizando e limpando meu atelier, que é composto por uma escrivaninha na lavanderia, com gavetas e escaninhos, e prateleiras até o teto. Especialmente objetos de madeira. Eu vejo tanta beleza na madeira! Mas estou conseguindo me fazer compreender que não preciso guardar aquele caixote de feira, cujas placas de madeira poderiam ser desmontadas e transformadas em quadros incríveis, ou aquele toco de cabo de vassoura. Não vou desmatar a floresta amazônica se eu me desfizer destes objetos e, se no futuro eu quiser fazer algo com esse tipo de material, será muito fácil consegui-los novamente. Marie Kondo e a Mágica da Arrumação, livro que li e doei depois, fazendo efeito aqui na minha cabecinha, mesmo depois de anos. "Isso me traz alegria?"
Parte das coisas que separei para doar e jogar fora |
O atelier ficou apresentável e comecei a trabalhar nele. Ainda cabem mais alguns olhares críticos e certamente muita coisa sairá de lá.
Esta postagem foi escrita com antecedência e no dia em que for publicada, estarei viajando, já ansiosa para voltar para casa, para minha paz e minhas coisas. Vocês têm problema em desfazer malas? A maioria das pessoas com quem converso sobre reportam desânimo para cuidar dessa tarefa mas eu gosto. Colocar as coisas no lugar, lavar as roupas e guardar as malas traz conforto pra mim.
Talvez, pelo título da postagem, você esperasse um discurso mais claro sobre como ter uma vida mais leve e desprendida de coisas materiais mas foi só um desabafo de uma pessoa comum, às voltas com as coisas das quais ela se cerca.
Comentários
Postar um comentário
Quer deixar sua impressão ou algum comentário sobre este post?