As portas que eu fechei

Estava pensando sobre os efeitos que o isolamento social dos últimos dois anos causou em mim.

Se, por um lado ganhei tempo de qualidade em casa, pulando as horas desgastantes de deslocamento ao trabalho, me permitindo no início uma sesta diária e disposição para me dedicar a projetos  pessoais como a panificação e a encadernação, por outro lado esse convívio comigo mesma e o caos que é minha cabeça fervilhante de ideias e preocupações me fez perder saúde física e mental e fechar muitas portas.

Em 2020, quando estava fazendo uma das muitas pausas detox de redes sociais, recebi insistentes mensagens de uma jornalista que produzia conteúdo para uma revista de circulação em uma rede de farmácias, me convidando para uma reportagem sobre superação do medo de dirigir. Ela havia lido este post e queria fazer fotos e entrevista comigo. A verdade é que eu nunca perdi o medo de dirigir e, depois que meu local de trabalho mudou, em 2019, e comecei a ir ao trabalho de metrô, eu nunca mais dirigi. Também minha visão piorou muito já naquela época. Então o não que eu dei à jornalista foi o mais justificável de todos, eu seria uma fraude pois não dirigia mais. Mas tenho certeza de que arrumaria uma outra desculpa, caso estivesse dirigindo.

No ano passado estava participando de dois projetos mensais de encadernação, um estrangeiro e outro brasileiro. Estava recebendo muitos elogios pelos meus trabalhos. Foi quando uma crise existencial associada a uma jornada exaustiva e sem descansos semanais no trabalho me fizeram questionar o propósito de tudo aquilo. Estava nesse cenário conturbado quando fui convidada a participar de uma live promovida pelas organizadoras do desafio de encadernação brasileiro, para que as pessoas me conhecessem e eu pudesse mostrar meu trabalho. Novamente me peguei a participar, dando os argumentos reais mas de novo me questionando se eu não era uma fraude.

Sou uma pessoa muito tímida e, ainda que eu estivesse com tempo e em paz, não sei se eu teria aceitado o convite 

A verdade é que eu me saboto.

O terceiro não que eu dei foi o mais doloroso e, embora eu realmente tivesse razões para fazê-lo, na época, espero conseguir revertê-lo em breve .

Logo depois do episódio anterior uma prima minha muito querida me pediu pra fazer um livro para ela presentear sua neta, para registrar suas memórias. Fiquei tão feliz com o pedido, conversamos sobre detalhes da peça, comprei materiais mas eu estava em crise, atolada de trabalho e meus olhos estavam dando sinais claros de que havia algo errado, então eu pedi desculpas a ela e disse que não conseguiria fazer o trabalho naquele momento.

Depois disso comecei a cuidar de mim..

Primeiro comecei, como já falei em posts anteriores, a questionar os propósitos de eu fazer tudo o que eu fazia. Avançando para os dias atuais, posso dizer que este questionamento foi muito produtivo: desentralhei, doei caixas e caixas de livros e brinquedos e aprendi a respeitar meu tempo de criar.

Voltando à segunda metade de 2021, vacinas tomadas, voltamos a nossa rotina de check-uos anuais de saúde. Junte a isso o surgimento de uma alergia brutal na Magali, nossa cachorra mais nova, e não sobrou tempo nem disposição pra mais nada.

Fizemos uma viagem no final do ano e a carga de estresse que ela causou demorou meses pra passar.

Estou me recuperando de uma segunda cirurgia no olho esquerdo e, eu que nunca fui de fazer muita atividade física, me vejo obrigada a ficar em repouso e é um exercício de paciência me fazer entender que é o momento de descansar e de me cuidar e que depois virá o tempo de cuidar de outros aspectos da saúde, como acabar com o sedentário.

No mais, sigo ansiosa para voltar a trabalhar e, pasmem, sair do teletrabalho, ao menos um pouco. Para alguém reservada como eu, trabalhar em casa tem efeitos nocivos para o convívio social e a saúde mental.

Não cheguei a consultar nenhum especialista quando tive crises mas tenho o palpite de que sofri no ano passado de síndrome de Burnout.

Então é isso, tem poste em que falo de roupinhas de bonecas e outros em que né abro e espinho minhas fragilidades. Equilíbrio né mores 

Fiquem bem, se cuidem e nos vemos em breve 




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